Cuiabá, 10 de Setembro de 2013.
À Prefeitura de Cuiabá
Exmo. Sr. Mauro Mendes Ferreira
Carta
de Compromisso
Solicitação
do projeto orla do porto em
Cuiabá
Antes de começar QUEREMOS DEIXAR CLARO NÃO SOMOS CONTRA O
PROJETO, APENAS QUEREMOS MELHORÁ-LO. Compartilhe conosco o projeto e as
informações.
O Projeto Porto Cuiabá, em sua proposta apresentada em
slides, inicia-se com alguns objetivos muito plausíveis:
●
Requalificação urbana da região do Porto de Cuiabá
●
Promoção da reintegração do Rio Cuiabá ao convívio dos
munícipes;
●
Valorização do patrimônio histórico e cultural presente na
região;
●
Promoção do convívio social e da prática de esporte e lazer;
● Transformação
do local no principal centro de entretenimento do município.
Em sequência de sua apresentação, o projeto apresenta suas
referências, em maioria de maneira mundial e uma nacional. As cidades citadas
são Amsterdam, San Antonio - EUA, Shangai, Puerto Madero, Paris (Rio Senna),
Florença na Itália e Belém do Pará no Brasil.
O Projeto também apresenta a problemática no bairro Porto,
apresentando fotos e contextualizando a situação local, nos quais apresenta os
seus edifícios históricos em ruínas e abandonados pelo poder público e pela
sociedade, apresenta a falta de infraestrutura do bairro, a marginalização das
pessoas, que são usuários de drogas e se prostituem, o problema do lixo e
esgoto que afetam o rio, e até mesmo um apelo popular “Acorda Cuiabá. Ciclovia
Já!” expressado no muro da antiga instalação da Sanecap.
Assim que termina a apresentação da problemática, das
referenciais e do objetivo do projeto, inicia-se com uma bela foto do porto
antigo, e dá-se início de uma frustrante apresentação de projeto.
Já na localização do projeto, na demarcação de sua instalação, se nota um rompimento da continuidade do projeto em relação à extensão da Av. Beira Rio. Com isto, já desbanca dois dos tópicos listados nos objetivos iniciais da apresentação, pois com este rompimento dificulta a reintegração do Rio Cuiabá e os moradores da região e bairros interligados, o convívio social e a prática de esporte e lazer ficam interrompidos pela falta de conectividade com o entorno, além da não priorização dos meios de transporte públicos e as suas principais ligações com o bairro. Perde-se a ligação com a rotatória da Av. Miguel Sutil, Rua Barão do Melgaço, Ponte Nova e a Av. Beira Rio, com isto o ciclista que se interessar no uso da ciclovia proposta, passa a ter que usar vias não seguras para ter acesso a um pequeno trecho de ciclovias, fazendo disto uma perda de interesse da população com a nova instalação. O Grupo “Ciclovia Já!” propõe que a ciclovia se conecte com o entorno, tanto chegando à rotatória, quanto ligando a futura estação do VLT.
A apresentação segue com belas imagens, nas quais se podem
notar falta de sinalização e planejamento adequado da ciclovia, avanço das
calçadas para margem do rio(APP) e redução da vegetação arbórea natural do
local. O Grupo “Ciclovia Já!” propõe que
ao invés de avançar para a APP, faça a ocupação de uma das duas vias presentes,
já que se propõe um espaço de lazer e esporte, a redução da velocidade máxima
permitida pela via, visa trazer segurança e conforto para os usuários. Se apenas
sinalizar que a via deve ter velocidade máxima de 30km/h, mas manter a
capacidade dimensionada para se ter mais velocidade, o motorista fará uso da
capacidade total. Portanto propomos a redução de dimensionamento, velocidade
segura e preservação ambiental.
No slide que cita a Estação Cultural e Lazer, apresenta-a
muito deslocada do centro turísticos do porto e atrativos para o seu melhor
uso, tornando-a um elefante branco na orla do rio, pois com pouca conectividade
ao entorno e falta de ligação com o transporte público, este tipo de edificação
segrega e isola a comunidade local e de baixa renda ao seu uso. A Estação
Cultural e Lazer mais se parecem com um playground e projeto copiado de
qualquer praça no mundo, pois não apresenta nenhuma identidade local, seus
equipamentos são poucos atrativos, há enorme ausência de bancos e pouca
arborização, além de que nada se propõe a cultura, nem regional e nem nacional.
O observatório e o píer oferecem pouca segurança e baixa acessibilidade, não
pode ser notado nas imagens rampas e sinalizações para pessoas com alguma
deficiência, sendo visual ou de mobilidade reduzida e até mesmo idosas. O Grupo “Ciclovia Já!” propõe que aproxime a
Estação Cultural e Lazer, ao Mercado Municipal, e reutilize o espaço onde
estava desenvolvendo a tradição cultural do Siriri e Cururu, criando uma nova
estrutura que não seja voltado apenas a atividade física, mas que promova a
cultura regional. Outra coisa é não concentrar todo o equipamento urbano em um
ponto só, seria interessante que os equipamentos de saúde e exercícios sejam
distribuídos ao longo da orla, para que toda a orla possa produzir saúde e
qualidade de vida.
Ao continuar a apresentação e observar o design dos novos
quiosques, nota-se que mais se parecem com fast
food, sem identidade e característica da arquitetura cuiabana. As árvores
que poderiam fazer sombras para as mesas e cadeiras, foram substituídas por
sombreiros (guarda-sol) nas mesas. A falta de respeito com a cultura verde e
sustentável junto ao rio também é notada, pois ao descumprir a lei referente às
áreas de APP e invadi-las para ampliar as calçadas e instalar quiosques, a
prefeitura deixa de dar exemplo aos seus moradores, incentivando a prática
tradicional do nosso estado de não respeitar a natureza e seus direitos. O Grupo “Ciclovia Já!” propõe novos
quiosques com tipologia única valorizando os símbolos e a identidade de nossa
região, resguardando nossa cultura e valorizando nossa arquitetura. Propõe-se
também que toda instalação feita na APP seja elevada, assim como caminhos e
quiosques.
Quanto ao novo aquário, o tópico três das propostas
iniciais, cita “valorização do patrimônio histórico e cultural presente na
região”, contudo no projeto se apresenta o contrário, um plágio descarado e mau
feito do Water Cube de Pequim, com suas imagens e referenciais ao ainda ao
lado, mostra-se apenas imagens incompletas de uma ideia que ainda falta
desenvolver. O desrespeito ao mercado municipal não o valoriza, pois a
arquitetura nova sobrepõe e pretende chamar mais atenção que a existente, e não
se trata de fazer contraste e sim de isolar um espaço favorecendo outro. O Grupo “Ciclovia Já!” propõe que seja feito
um estudo mais apurado sobre o tipo de edificação que seria mais adequado à
arquitetura existente e seu entorno, e questiona sobre a atual estrutura do
Aquário Municipal, se há recursos e manutenção.
Ao fechar a via à margem do rio e manter aberta a via frente
as históricas casas e comércios do porto, o projeto torna a descumprir seus
objetivos, não valoriza o patrimônio, segrega a população e aumenta a
marginalização dos moradores locais, que se continuar incomodando serão
deslocados para outra região. O Grupo
“Ciclovia Já!” propõe que haja uma ruptura das vias, integrando o espaço em uma
grande praça de lazer, ao invés de segregar o certo seria unir, fazer novos
usos das edificações antigas criando uma praça de alimentação e artesanato.
Quando a população local poderá fazer uso dos luxuosos
restaurantes que tomam a margem do rio em frente ao mercado municipal? Na imagem
do slide 37 deixa claro, a segregação da população e o isolamento pela rua. Se
antes a reclamação era que havíamos virado as costas para o rio, com os novos
restaurantes, colocamos uma porta paga para ele, uma porta que avança a APP,
que segrega o pobre, que isola o patrimônio histórico. Porque não estudar o oposto, instalar os restaurantes aproveitando as
residências históricas, restaurando-as e propondo novo uso? O Grupo “Ciclovia
Já!” propõe que já que há demanda para restaurantes de luxo, e que este perfil
oferece contraste social, mas não pode ser esquecido também, que os novos
restaurantes sejam instalados no lado oposto do centro cultural, no início da
orla vindo pela Miguel sutil, pois há espaço que não ocupa APP, espaço para
instalar estacionamentos, e também há boa vista para o rio. Se o projeto for
bem feito, este ponto proposto poderá contemplar toda a orla do rio com a
cidade de Cuiabá como plano de fundo.
A proposta do estacionamento faz uso de uma área que
desenvolve uma tradição popular com as festividades do Siriri e Cururu, numa
cidade que falta poucos pontos culturais, num projeto que há pouco
favorecimento aos modais alternativos e transporte coletivo, se desfaz de uma
área riquíssima, que poderia abrigar além dos estacionamentos, pontos culturais
e de lazer, poderia ser a área de transição do bairro porto com as novas
instalações, poderia ser tanta coisa que a criatividade arquitetônica e
urbanística nos permite criar, que a única coisa que não poderia ser é um único
e exclusivo estacionamento para 912 vagas. O
Grupo “Ciclovia Já!” propõe que seja feito um estudo para instalação da Estação
Cultural e Lazer, podendo-se pensar no estacionamento subterrâneo ou até mesmo
reduzido no perímetro da Estação.
Aí para completar o projeto se propõe com belas imagens,
mascarar e maquiar o bairro porto, até porque quem está nos restaurantes de
luxo não vão querer ficar olhando as edificações podres e abandonadas do outro
lado da rua, então se propõe lojinhas de artesanato. Para acessar 3 restaurantes
há amplas calçadas, uma praça que interliga eles ao Mercado Municipal e ao
Plágio de Pequim (nome sugestivo para a nova obra), e para acessar a cultura
precisa-se atravessar a rua e transitar por calçadas pequenas. Estamos fazendo
isto certo?
Enfim, para concluir apresenta uma imagem de como seria a
Praça Luís de Albuquerque se ela fosse cuidada pelo município.
Se este projeto fosse a apresentação de um trabalho de um
aluno na faculdade, pelas belas imagens poderia tirar a nota 5.4, no sistema de
ensino de hoje, seria reprovado por 6 décimos, as imagens conquistam, porém se
for olhar pelo olhar técnico, se for olhar pela qualidade, pela integração,
pelo urbanismo proposto, poderá compreender que é apenas imagens sem qualidade
de projeto.
O problema começou nas referencias, todos os projetos de
referência apresentam rios canalizados, rios que já foram muito poluídos e que
foi recuperado para uso da comunidade, rios em cidades históricas, os quais
delimitar o rio era a solução para sua preservação. Nenhum destes casos se
aplica a nossa peculiaridade, nosso rio ainda está vivo, suas margens fazem
parte dele. Hoje se viramos as costas para o rio, o verde das árvores sempre
esteve de frente a ele. Se este argumento furado em forma de projeto for
executado, boa parte da APP será devastada, mesmo que se proponha instalar as
árvores em outros locais, ali é o lugar delas.
Outro problema, a população do bairro do Porto, hoje vive o
esquecimento, a marginalização da sociedade, com o novo projeto, apenas
agravará este problema, apenas segregará e excluirá a população do Porto.
Propomos que haja pesquisa, que tenha enquetes, e ouça a população para saber o
que precisam.
Quanto à ciclovia, ela está sem conexão, no projeto ela
apenas margeia 800 metros de 1,3km de projetos para a orla do Porto, há no
mínimo dois pontos que ela precisa chegar, na rotatória da Beira Rio com a
Miguel Sutil e Ponte Nova, e também no novo terminal do VLT, que será instalado
em frente ao Atacadão. O ideal é que se a ciclovia for bidirecional, que tenha
um dimensionamento adequado já que há espaço. O correto seria ter duas faixas
de no mínimo 1,5m cada. E falta integração do projeto com o transporte
coletivo, o grupo propõe um ponto de ônibus no centro do percurso da orla.
Do projeto o que se salva, é a vontade de fazer, as ideias
das propostas, e o amor pelo bairro Porto. Quanto às normas, arquitetura e
urbanismo, deixam muito a desejar. Acreditamos que se o projeto for
compartilhado, podemos ajudar de forma voluntária a evoluir a ideia e
desenvolver melhor este trabalho. Há estudantes e profissionais de arquitetura
e urbanismo que podem contribuir, além do grupo “Ciclovia Já!”, que teria o
maior prazer em ajudar.
O que precisamos são de políticas simples, eficientes, que
outras cidades já mostraram que funcionam. Contamos com o senhor para nos
ajudar e criar uma Cuiabá para pessoas.
QUEREMOS DEIXAR CLARO NÃO SOMOS CONTRA O PROJETO, APENAS
QUEREMOS MELHORÁ-LO. Compartilhe conosco o projeto e as informações.
No
aguardo e na certeza de uma resposta e solução.
Atenciosamente,
Grupo
Ciclovia Já – Acorda Cuiabá.